Quando um território tem sua sede elevada à categoria de cidade, não depende mais da cidade polo e passa a receber e administrar seus próprios recursos, diz-se que foi emancipado politicamente. Para criar um município e torná-lo independente, é necessário primeiro que haja a vontade daqueles que moram em seu território, que seja emancipado.
Normalmente é um distrito submetido à uma prefeitura de um município existente que busca se emancipar. E as motivações podem ser inúmeras: Culturais, econômicas, políticas, etc.. No Brasil a criação de um município sempre foi alvo de críticas, pois gera custos com a criação de sua estrutura administrativa como a contratação de servidores, manutenção do Legislativo, entre outros.
Entre 1947 e 1950, época em que foi criado o município de Ibaiti, o Brasil possuía 1890 municípios. Já na década seguinte (1960) esse número saltou para 2765, chegando a 3959 na década de 1970 em pleno regime militar. Atualmente o país possuí 5570 municípios, o que já foi objeto de discussão nas três esferas de governo.
Já houve propostas para a fusão de municípios com população menor que 5 mil habitantes. Pela proposta, 1254 municípios por todo o país deixariam de existir e voltariam a categoria de distrito, pertencente a um município maior que seria a cidade sede. Se isto de fato acontecesse, o município de Ibaiti agregaria as cidades de Japira e Conselheiro Mairinck com populações inferiores a 5 mil pessoas.
Quando se faz uma reflexão, é difícil imaginar que num passado não tão distante, homens e mulheres que sonhavam com a emancipação política de Barra Bonita tiveram enormes dificuldades para transformar Ibaiti em um município independente. Eles acreditaram que a terra onde viviam seria próspera.
Os esforços e dedicação dos primeiros moradores foram grandes, pois as dificuldades que o povoado enfrentava na época eram enormes. No começo, a vila de Barra Bonita vivia isolada do resto do Estado. A única ligação segura com a civilização era pela estrada de ferro. A precariedade das estradas, ainda de terra batida, era um empecilho para o desenvolvimento. No povoado, as carroças e as charretes. Nos caminhos rurais, as montarias e as tropas de cargueiros.
No final da década de 1930, começou de fato as conversas mais acaloradas para a emancipação. Ainda sem luz elétrica, os salões dos armazéns e vendas iluminados à chama do querosene presenciaram vários debates pelo município. Porém, sem grandes apoios políticos, as conversas não produziam engajamento. O comércio prosperava, porém, a colonização seguia em curso irregular. Formado por habitantes vindos das mais diversas regiões do país e do estrangeiro, o bairrismo tão necessário para estreitar os laços de união entre os moradores, ainda não se achava suficientemente enraizado entre as pessoas. Os moradores se preocupavam mais com a luta pela sobrevivência do que com a política.
Os debates pela emancipação eram mais acalorados no período noturno. Nos salões de bares e armazéns haviam jogos de tabuleiros e baralhos. Nas madrugadas escuras, arruaças e algumas vezes tiros quebravam o silêncio e já não mais assustavam os moradores que acompanhavam o povoado crescer.
O futebol, as carreiras de cavalos, as rinhas de galo, os bailes e até as festas religiosas, volta e meia acabavam em brigas e discussões. Barra Bonita ansiava pela energia elétrica que viria do Paranapanema.
Ainda sem luz, as casas de comércio permaneciam até tarde da noite abertas iluminadas com velas e lampiões. As chamas clareavam as ruas e davam à Barra Bonita um ar alegre e de esperança. Para sair de casa à noite, as pessoas usavam lanternas. Os moradores se misturavam às carroças que transportavam de tudo, de mobílias dos recém chegados novos moradores às mercadorias para os armazéns.
Em 1937, a Companhia Sul Paulista de Chavantes, instalou a rede de iluminação pública no distrito. Iluminada com postes de madeira, a ruas ganharam maior segurança e em algumas casas e comércios, as fracas lâmpadas incandescentes trouxeram à Barra Bonita um charme de cidade. A partir daí, o desejo da emancipação aumentou na comunidade.
Já em 1943, a Sociedade dos Amigos de Barra Bonita, entidade criada por sugestão do morador Zoilo de Meira Simões, para tratar oficialmente da idéia de transformar o distrito em município, formou uma comissão com Carlos Pereira de Araújo, Júlio Farah, Almir Torres Brandão, Euclides Monteiro, João Alfredo Costa e Miguel Jorge Watfe que viajou até Curitiba pleitear junto ao interventor Manoel Ribas a elevação de Barra Bonita à categoria de município. O interventor recebeu a comitiva, ouviu suas razões e demonstrou entusiasmo e simpatia pela causa.
Uma foto da comitiva em viajem à Curitiba está no acervo de fotografias do Museu Histórico de Ibaiti. Apesar de Manoel Ribas ter mostrado simpatia com os anseios dos barra-bonitenses, o pedido de emancipação não foi atendido. Pelo contrário, a pedido do então prefeito de Tomazina, Avelino Vieira, o interventor mandou até Barra Bonita o chefe de polícia do Estado, Dr. Pedro Firmam Neto, com a missão de fechar a Sociedade dos Amigos de Barra Bonita sob o pretexto de ser “uma ameaça à segurança pública”. Chamou seus membros de “subversivos” e ameaçou todos de prisão caso reincidisse nas idéias de emancipação.
O prefeito de Tomazina era contrário ao movimento separatista do distrito de Barra Bonita. Ele dizia que a Sociedade dos Amigos de Barra Bonita trabalhava “contra os interesses do Estado”. Apesar de ser contrário no início, Avelino Vieira, após eleito deputado estadual, anos depois, apresentou à Assembléia o pedido da criação do município de Ibaiti. Vieira voltaria, assim, a reconquistar a simpatia e admiração dos ibaitienses.
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