A imigração japonesa no Brasil começou oficialmente no início do século XX, no ano de 1908. Neste ano, o navio Kasato Maru aportou em São Paulo, trazendo 781 lavradores para as fazendas do interior paulista.
O fim do Xogunato Tokugawa deu espaço para um intenso projeto de modernização e abertura para o exterior durante a era Meiji. Apesar da reforma agrária, a mecanização da agricultura desempregou milhares de camponeses. Outros milhares de pequenos camponeses ficaram endividados ou perderam suas terras por não poderem pagar os altos impostos, que, na era Meiji, passaram a ser cobrados em dinheiro, enquanto antes eram cobrados em espécie (parte da produção agrícola).
No campo, os lavradores que não tinham tido suas terras confiscadas por falta de pagamento de impostos mal conseguiam sustentar a família. Os camponeses sem terra foram para as principais cidades, que ficaram saturadas. As oportunidades de emprego tornaram-se cada vez mais raras, formando uma massa de trabalhadores miseráveis.
A partir da década de 1880, o Japão incentivou a emigração de seus habitantes por meio de contratos com outros governos. Antes do Brasil, já havia emigração de japoneses para os Estados Unidos (principalmente Havaí), Peru e México.
Somente no Brasil, Estados Unidos e Peru se formaram grandes colônias de descendentes de japoneses.
Em abril de 1905, chegou ao Brasil o Ministro Fukashi Sugimura, que visitou diversas localidades no país, sendo bem recebido tanto pelas autoridades locais como pelo povo.
O relatório produzido por Sugimura, onde foi descrito a receptividade dos brasileiros, aumentou o interesse do Japão pelo Brasil. Influenciados por este relatório e também pelas palestras proferidas pelo secretário Kumaichi Horiguchi, começaram a surgir japoneses decididos a viajar individualmente para o Brasil, principalmente para o interior do estado de São Paulo.
Em 1930, chegou em terras ibaitienses a primeira família de origem nipônica. O casal Massagiro Taki e Shite Taki adquiriam uma área de terras e formaram lavouras de café e cereais. Tiveram os filhos Seiji, Yuji, Takashi, Akihiro, Mitsugo, Massakato, Eiko, Kazuê e Tereza.
Por volta de 1937, mais famílias japonesas chegaram em Barra Bonita, vindas do interior paulista. Entre essas famílias estavam Sumati Yagui, Suematsu Nogire, Shinzo Sugiyama e os irmãos Miyajima. Em 1941, o pioneiro Mitio Otogashi chegou na região vindo de Duartina (SP) para efetuar a abertura de uma fazenda para a família Marta, de Bauru (SP). Otogashi tomou conhecimento da fertilidade do solo de Barra Bonita, próprios para ao cultivo de café, passando a incentivar a vinda de outras famílias japonesas para a região. Foi na comunidade de Amora Preta o início da formação de uma colônia de famílias japonesas que adquiriram as terras de Jaime Carvalho para pagamento a longo prazo. A intermediação das vendas foi realizada por Jiujiro Miyashita e, mais tarde por Nikiti Haga.
As primeiras famílias japonesas encontraram muitas dificuldades no início em Barra Bonita. Eles enfrentaram inúmeros problemas, incluindo a falta de pontes e estradas, que mais tarde foram construídas através de mutirão com ferramentas manuais.
Seiji Hattanda chegou ao Brasil em 1934. Trabalhou no campo no interior de São Paulo. Em 1941, com apenas 22 anos de idade chegou em Barra Bonita com a ilusão de que haveria muito trabalho, infraestrutura e prosperidade. Logo numa primeira visão decepcionou-se com os inúmeros obstáculos naturais na época, encontrando, porém com o maior deles, o fato de serem imigrantes.
Seiji passou a dedicar-se ao ramo de secos e molhados em uma casa de comércio localizada na parte alta da cidade. Casou-se com Tori Hattanda teve cinco filhos, Paulo, Kyoshy, Célia, Viviane e Saty. Apesar de não escrever uma única palavra em português, Seiji Hattanda tinha um sonho de criar uma faculdade na cidade. Atualmente tem seu nome homenageado no Centro Estadual de Educação Profissional de Ibaiti.
Das 70 famílias japonesas que chegaram em Barra Bonita, também se destacam os irmãos Daijiro e Miyoshi Matsuda que reuniram as famílias e criaram a Associação Aurora para estudos da Verdade da Vida (Seicho-No-Iê). Miyoshi, que foi o fundador e primeiro presidente da Seicho-No-Iê no Brasil, afirmava que aqui era o primeiro país do mundo, depois do Japão, a integrar-se ao movimento. A associação liderada pelos irmãos Matsuda, teve início no bairro Amora Preta no dia 11 de fevereiro de 1942, registrado como Associação dos Jovens da Seicho-No-Iê Regional Aurora e contava com treze membros.
Miyoshi Matsuda nasceu na ilha de Goshourá, na província de Kimamoto, Japão, em 1911. Chegou ao Brasil em setembro de 1931, ao encontro do irmão Daijiro que estava acometido por uma desinteria amebiana. Miyoshi viajou 43 dias até o porto de Santos (SP) e de lá foi de trem até Duartina (SP), onde de caminhão percorreu 34 quilômetros chegando em Ribeirão Bonito, na fazenda onde morava Daijiro. Após a cura do irmão em 1934, através da Seicho-No-Iê, entusiasmou-se com os ensinamentos e começou a percorrer quilômetros e quilômetros de distância, pregando a verdade da vida. Os irmãos compreenderam que a doença era uma projeção de sua própria mente vingativa, pois o homem era a própria vida de Deus. Enquanto não despertasse para esta Verdade, estava destinado a sofrer.
Após a cura de Daijiro, os irmãos Matsuda adquiriram 100 alqueires de terras no distrito de Barra Bonita para a formação de lavouras de café. Acompanhados das famílias que vieram com eles de Duartina, fundaram a Associação Aurora onde se reuniam com os moradores para estudar a Verdade da Vida. A Casa dos irmãos aos poucos foi ficando pequena para abrigar os jovens que vinham de longa distância para estagiarem. Começou assim, a brotar o sonho de Miyoshi de construir uma academia de treinamento espiritual para jovens. Assim no dia 11 de fevereiro de 1942, o professor Miyoshi Matsuda fundou a primeira Associação para jovens da Seicho-No-Iê do Brasil e da Amárica Latina.
A academia, com capacidade para 100 pessoas contou com a ajuda dos moradores, destacando-se a participação de Seiji Hattanda, Shiro e Heihachiro Hosoume e Koliti Hassanuma e outros. Vale ressaltar o grandioso trabalho de apoio desenvolvido por Mishie Matsuda, esposa de Miyoshi Matsuda e também de Kiyono Matsuda, esposa de Daijiro, que sempre dirigiram o lar e colaboraram em tudo para que os maridos ficassem livres para divulgarem os ensinamentos da Seicho-No-Iê. Muitas vezes essas mulheres ficavam meses sem ver os esposos, que viajavam a cavalo levando os ensinamentos em pontos distantes.
Em 1954, Miyoshi foi nomeado primeiro relator emissário da Sede Central do Japão. Com o falecimento do irmão Daijiro em 1962, Miyoshi deu continuidade à nobre missão de divulgar os ensinamentos da Seicho-No-Iê no Brasil. Em 1982, foi agraciado com a comenda da Ordem do Ipiranga, no grau de Comendador, pelo governo do Estado de São Paulo. Foi também nomeado presidente doutrinário para a América Latina. O professor Miyoshi Matsuda faleceu no dia 4 de junho de 2000, aos 89 anos.
O monumento do marco histórico da Seicho-No-Iê no Brasil no bairro Amora Preta foi erguido no local onde ficava a primeira casa de oração da associação dos irmãos Matsuda. O marco foi construído em março de 1981.
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