Hoje, ao abrir meu celular para desejar um feliz Natal a um amigo distante, lembro-me de como o Natal era bem diferente na minha adolescência. Naqueles tempos, as confraternizações de fim de ano eram carregadas de uma energia simples, mas profunda, de quem sabia que, em tempos sem a tecnologia de agora, a saudade precisava ser compensada de formas bem mais criativas e emotivas.
Naquela época, não havia celulares, nem videochamadas, nem mensagens instantâneas. O que existia era a espera, a expectativa, o esforço genuíno para estreitar laços. Famílias que viviam longe, às vezes em cidades distantes, passavam o Natal em diferentes cantos do país, sem a certeza de quando se veriam novamente.
A saudade, ah, a saudade se transformava em algo quase palpável. Para matar um pouco dessa distância, fazíamos uma ligação telefônica — e não era uma ligação qualquer. Não havia celular de fácil acesso, e a maioria das casas não tinha linha fixa. Então, recorriam-se à Central Telefônica, ou, como muitos chamavam, “a Central da Telepar”. Quantas vezes não ficávamos esperando, ansiosos, que nosso nome fosse chamado para que pudéssemos fazer uma única ligação, ouvindo, ao longe, o “alô” da pessoa amada, que, muitas vezes, tinha o som abafado pela distância e pela qualidade precária da linha. Mas aquele momento, por mais curto que fosse, trazia uma proximidade que os celulares de hoje jamais conseguirão transmitir.
Além disso, havia as cartas. Cartões de Natal, cheios de palavras sinceras, com mensagens escritas à mão, enviadas com tanto carinho que chegavam no Correio carregando o perfume de quem as escreveu. Aqueles cartões tinham uma magia própria, um toque humano que nenhum e-mail ou mensagem de texto poderia substituir. E não me refiro apenas ao conteúdo, mas ao próprio gesto de escrever, de escolher um cartão com algo que simbolizasse o carinho e a atenção ao destinatário. O aroma, o toque, o peso da carta na mão… Como tudo isso representava uma conexão verdadeira, mesmo com a distância física.
Hoje, com a tecnologia, as coisas parecem mais fáceis. Num toque na tela, conseguimos enviar mensagens para qualquer lugar do mundo. Podemos ver a imagem de quem amamos, ouvindo sua voz e até compartilhando momentos.
A tela do celular nos traz a proximidade, mas, de algum modo, essa proximidade parece um pouco mais vazia. As palavras digitadas nas telas são práticas, mas não têm o cheiro do papel, da tinta, nem o calor de uma conversa no fundo de um telefone antigo. Não há mais o carinho de um cartão que atravessava cidades ou países, cheio de sentimentos que se mesclavam com a saudade. Hoje, estamos todos mais conectados, mas, ao mesmo tempo, mais distantes.
As festas de Natal, então, eram um capítulo à parte. O Natal era a ocasião em que todos se reuniam, com seus melhores trajes, e a mesa era uma obra de arte improvisada. O frango assado, a farofa, a salada de maionese, o arroz com passas, tudo preparado com o amor e a dedicação de quem sabia que não poderia contar com as conveniências dos supermercados de hoje. A mãe, com suas mãos calejadas, era a verdadeira anfitriã, e seu bolo caseiro, uma verdadeira obra-prima, fazia as vezes do panetone caro, comprado em alguma loja. Como as famílias se uniam em torno dessa mesa, como compartilhavam mais que a comida, mas histórias, risadas e o prazer da companhia.
Hoje, temos tudo ao nosso alcance: panetones importados, ceias sofisticadas, até mesmo perus e carnes assadas prontos para o consumo. Mas, naquele tempo, o improviso tinha um valor único. O sabor de um Natal sem recursos, mas repleto de afeto, era incomparável.
Não estou aqui para romantizar o passado, mas para lembrar que, apesar de termos mais conforto e mais acesso à tecnologia, a magia de antigamente, com suas limitações, não tem paralelo.
O Natal de hoje é repleto de facilidades, mas aquela simplicidade do Natal de antigamente, com suas distâncias transformadas em gestos significativos, ainda permanece viva em minha memória.
Não importa o quão perto estamos com os dedos na tela: algo se perdeu ao longo do caminho, algo que só um cartão de Natal ou uma chamada de telefone à distância pode trazer de volta.
A saudade que se transformava em emoção palpável, a magia do improviso que sempre tinha um gosto de afeto genuíno, o valor do tempo passado em família, tudo isso não pode ser replicado por nenhuma tela ou rede social.
E é por isso que, mesmo com toda a tecnologia ao meu redor, nunca esquecerei o Natal de ontem — aquele em que a distância nunca foi um obstáculo para o amor, porque era a saudade que nos aproximava.
Por Gilson Sarrafho
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